Arquivo de Junho 29, 2011

A Copa do Mundo de 2014 começa oficialmente no próximo mês de outubro, pelo menos no papel: será realizado no Rio de Janeiro o sorteio das eliminatórias para o mundial.

O que temos para analisar foge um pouco do esporte e entra na questão política, mais precisamente na rivalidade entre alguns países. Tomemos como base os conflitos políticos vividos atualmente ou já vividos em algum lugar da história, casos de Armênia x Azerbaijão e Rússia x Geórgia.

Armênia e Azerbaijão disputam o território de Nagorno-Karabakh, motivo de guerra entre os países. Nas eliminatórias para a Euro-2008, quando a entidade máxima européia ainda não mantinha essa atitude, as nações foram colocadas no mesmo grupo de disputa. Resultado: por conta desses eternos conflitos, as nações nunca se enfrentaram.

O mesmo cunho separatista é caracterizado nos conflitos entre Rússia e Geórgia: a relação entre essas nações é conturbada desde a queda da União Soviética, nos anos 90, sendo que hoje, as regiões da Chechênia e da Ossétia do Sul são palcos de conflitos.

Por essa razão e diante desse cenário/ histórico de conflitos e guerras, a Fifa vai forçosamente colocar as seleções em grupos separados nas eliminatórias européias para 2014. O problema é se essas nações se classificarem para o mundial: esta premissa deve cair por terra, situação já ocorrida em Copas do Mundo. Em 1974, a Alemanha Ocidental perdeu para a Alemanha Oriental na primeira fase, antes de se sagrar campeã daquele mundial. O mesmo ocorreu em 1998, onde um jogo histórico e memorável colocou frente a frente as seleções de EUA e Irã, na primeira fase da Copa da França. Ao contrário do que a maioria esperava, o jogo ocorreu sem incidentes, onde os jogadores trocaram flores entre si no início do jogo, além de promoverem com maestria o fair-play. A torcida presente também deu um show à parte, muitas mensagens de paz foram vistas ao longo do Stade de Gerland, em Lyon. Realmente um momento marcante na história das Copas.

Mas onde está a ligação entre o esporte e guerras, conflitos e disputas políticas como as descritas acima? A explicação vem da sociologia e da cultura dos povos, já que o esporte está intimamente ligado a todas as divisões do âmbito social: segundo a tese do marxismo ortodoxo, o esporte engloba e se baseia nas forças de trabalho; pela vertente gramsciana, que trabalha com a questão da hegemonia, o esporte é elemento de dominação, resistência cultural ou política em uma cultura de sociedade de classes; finalmente, segundo a orientação frankfurtiana, o esporte é fotografia das necessidades e desejos da sociedade como um todo, em troca da socialização e “sentimento de pertencimento” que o mesmo proporciona.

Está mais do que certo que essa atitude da Uefa e Fifa irá gerar comentários, opiniões e discórdias. Mas o que podemos afirmar é que, depois da onda de escândalos em que a entidade máxima do futebol esteve envolvida ultimamente, é notório que as pessoas do alto escalão estão agindo com total cautela, de certa forma se esquivando de possíveis “mal entendidos” do esporte; em outras palavras, querem ser notados pelo bem, e não pelas notícias mais recentes. Essa segregação das seleções em conflitos é exemplo claro disso. É preciso recuperar a confiança, a credibilidade e o comprometimento.

Em linhas pessoais, creio ser a atitude mais sensata neste momento, os povos que prezam pela paz podem descambar para a guerra, o que daria um pontapé – em termos de eliminatórias – altamente negativo na já conturbada Copa de 2014.