Amantes e colegas do esporte, imaginemos a seguinte descrição sobre um esporte “X” e seu mercado, na pauta de discussões durante uma reunião: R$ 3 bilhões é o valor do quanto movimenta esse mercado, tem aproximadamente 4 milhões de participantes, 30% é o crescimento médio dos negócios em torno desse esporte nos últimos 5 anos, são aproximadamente 600 provas por ano, já é o 2º esporte mais praticado no Brasil. Não parecem dados do futebol, vôlei, tampouco basquete: sim, estamos falando da corrida de rua, um esporte que chama cada vez mais a atenção das marcas, segmento e de seus adeptos. Quais são suas maiores motivações? E a qualidade do serviço, organização, adequação e longevidade? Quais são as oportunidades que se pode encontrar agregando negócios paralelos? São questões interessantes que discutiremos ao longo da “corrida”.
Iniciemos com as motivações do público, os desejos e necessidades que a corrida direta ou indiretamente atende aos seus consumidores: pessoas de ambos os sexos, diversas faixas etárias, etnias e classes sociais encontram no esporte lazer, qualidade de vida, prevenção de doenças, melhoria da saúde e estética, combate ao stress, melhoria da disposição física e mental, além de ser para muitos um “desafio aos próprios limites”. Além desses fatores, a modalidade não exige grandes habilidades e materiais – basta um par de tênis e roupas confortáveis – e é garantia de sucesso no quesito relacionamento e valor social: há uma aproximação por valores e objetivos de vida, é real a possibilidade de captação de clientes e negócios – e o melhor de tudo, in locuo – possibilitando a realização de ações perenes e entendimento de motivações particulares.
Em termos de patrocínio, os números só incrementam o grande potencial deste mercado: em 2008, início da Maratona do Rio, 4 empresas patrocinavam o evento; hoje são 12. As cifras também aumentaram: três anos atrás a maratona carioca rendia R$ 1,5 milhão, hoje são R$6,2 milhões. Sim, as provas de rua viraram verdadeiros outdoors a céu aberto a serviço das marcas dos mais variados setores, desde drogarias a supermercados, empresas de tecnologia e até petroquímicas, como a Braskem – que patrocina o circuito Braskem Eco Run – realizado em 6 capitais. Na mesma linha, os fabricantes de material esportivo também criaram suas próprias competições: a Adidas patrocina o circuito das estações, realizado em quatro etapas, a Fila criou a Fila Night Run – mistura de competição e shows, mais voltado ao público jovem -, a Mizuno promove, em cinco cidades, a Mizuno 10 Miles Series. Já a Nike, pioneira em corridas de rua com o Nike 10K, abandonou as competições “menores” e de menor duração para criar o Nike 600K, evento o qual os participantes vão correndo de São Paulo ao Rio de Janeiro. Aliado a todos esses eventos, estão estruturas e facilidades que fazem com que os praticantes sejam fiéis ao esporte, a experiência de consumo seja perene e de qualidade: os fatores críticos de sucesso desse esporte foram atingidos e explorados a favor do negócio. Imaginem se tivéssemos que pegar fila para efetuar uma inscrição? Se a organização, os processos operacionais e o pós-evento fossem mal geridos? Definitivamente a realidade seria outra, apenas um convite à reflexão e à comparação com outros esportes.
Abordemos as corridas de rua em termos de mídia: no Brasil, somente a tradicional São Silvestre era transmitida pela TV; hoje são mais de 10 provas nacionais, além das muitas internacionais transmitidas em TV aberta e paga. São 4 revistas específicas de corrida e mais 2 cujo foco principal é a corrida. Grandes e dinâmicos sites movimentando notícias diárias e comercializando anúncios dos mais variados produtos – desde fotos a carros e apartamentos -. Programas de TV, rádio, e-mails promocionais, redes sociais e muitas outras ferramentas de marketing são usadas, contribuindo para o saldo positivo.
E os negócios paralelos? São diversas as oportunidades, onde o grande potencial está ligado ao turismo e a eventos. Principalmente onde viagens nacionais e internacionais fazem parte do pacote. Atento ao público que gosta de triathlon, passou a conhecer golfe e não resiste a uma aventura no rio ou na montanha, agências de turismo passaram a oferecer pacotes especiais, onde o prêmio maior é exercitar-se enquanto se exploram os destinos. Sim, há muitas peculiaridades no turismo esportivo: os consumidores viajam até o local da prova, passam alguns dias no município, consomem e fazem com que a economia local gire em ritmo acelerado. Para comprovar essa ascensão, citemos o exemplo de uma companhia de um segmento diferente e que colhe bons frutos: a Tam Viagens. Há pouco mais de dois anos, a companhia, que já trabalhava com eventos ligados ao automobilismo e ao futebol, apostou nas corridas e consolidou-se como operadora de maratonas. De lá pra cá, registra crescimento anual de 20% tanto na oferta de pacotes quanto no número de clientes. E, a cada temporada, a empresa vê o nicho aumentar a participação em suas vendas totais.
Definitivamente temos números impressionantes se considerarmos cada evento de corrida de rua no Brasil, porém ainda não há nenhum estudo do impacto positivo financeiro que eles geram em cada cidade. A Maratona de Nova York, por exemplo, uma das mais importantes e tradicionais maratonas do mundo – com 30.000 corredores oriundos de diversas partes do planeta – gera na cidade um impacto positivo em torno US$500 milhões. É um retorno maior do que o gerado no SuperBowl, também em Nova York. Daí tem-se uma real proporção de quanto ainda temos para crescer, uma excelente oportunidade.
Com base nas análises, não restam dúvidas de que o negócio corrida de rua ganha e ganhará cada vez mais adeptos Brasil afora, assim como ocorrerá aos envolvidos em termos de patrocínio e organização. Por isso, eis o recado: marcas, empresas e segmentos que objetivam crescer, temos uma grande oportunidade: é hora de correr.